terça-feira, 21 de outubro de 2008

Tristeza

Não vejo nesta infância tão permanente a contemplação de uma tristeza que sempre se separou da angústia. Nesta tristeza que eu quero que o mundo ame não encontrarão sofrimento, nunca. E a angústia será sempre uma sombra que, para vós, não passará de uma memória.
Adorava ver no mundo esta loucura, loucura de ver que na tristeza bebemos a única eternidade que podemos alcançar. A eternidade de olhar a tristeza, de a deixar seduzir a nossa existênica, de nos deixar-mos embalar por ela, beijando-a também nos momentos secretos, sorrindo...
Esta loucura tão bela, loucura de amar a tristeza, permitiu-me o sorriso que acompanha cada lágrima, levou-me á solidão e á melancolia, é felicidade. A felicidade de sentir no ar que o mundo é tristeza, a felicidade de sentir que na morte encontrarei o absoluto, mergulhando na melancólica certeza de que a felicidade me beijou, eternamente perpétua. E saber que a angústia não me acompanhou, nunca, traz-me o mais triste sorrir, a mais feliz das lágrimas...
Não há angústia no nada, e a tristeza é o nada que me faz sentir tudo, a melancólica felicidade...
Sou sóbrio nesta loucura, só nesta loucura. Apenas com ela consigo viver o silêncio, sentir a despedida de um adeus, desmaiar na morte, sonhar com a morte. E apenas nesta tristeza consigo aceitar a espera em que a morte me mantém, apenas na tristeza posso acalmar o meu desejo de não viver... Só á tristeza dedico o meu viver, só ela me dá esta loucura, esta paz, esta melancolia...
Amem esta loucura, vivam a loucura contemplativa de amar a tristeza e sejam loucamente tristes... Sem angústia, pois um louco não pensa, contempla... Tristemente...

Destroços

E se te disser que quero mesmo morrer? Continuarás a tentar manter-me debaixo do destroços de um amor que nunca foi nosso, mas meu? Não me digas que não, deixa-me , por favor, cantar a tristeza que já não é semente, uma última vez... Deixa-me cantá-la, deixa-me morrê-la, deixa-me... Já te sussurrei que quero mesmo morrer...
Não quero que me mates, já o fizeste ao conquistar o espelho que nunca foi meu irmão, mas sim, sempre, minha sombra... Quero deitar-me, sentir o céu esmagar-me o peito vazio, sentir o mundo queimar-me as costas marcadas, sentir o ar fugir da minha alma angustiada, aterrorizada...
Aqui nesta janela tão brilhante, encontro-te sempre a tirar-me o horizonte. Nesta janela tão brilhantemente perfeita, és apenas o meu horizonte, o horizonte que não quero alcançar, que não quer ser alcançado, nem através de uma lágrima... Deixa-me, por favor deixa-me...
Teremos sempre o sonho, encontrarás conforto no seu peito. E eu serei sempre o eterno espectador que te vê consumir a somra que mora no meu espelho...