sábado, 25 de setembro de 2010

Dor(mimos)


Deita a minha mão na tua. Podes dizer-me que sentes o frio que nas costas desta mão desembarcou. E que se deixou ficar, decidindo nunca mais deixar a minha mão dormir. Deita a minha mão na tua, deita-a e decide dobrar a minha dor em dez. Em dez sonhos que não poderei lembrar.
Como é indescritível esta demência em que me adormeces, como é difícil não estranhar este desengano quando a desilusão me devolveu à dália daquele outro tormento. Dás ao meu dia tanto desespero, minha dor não é mais demónio. Minha dor é apenas desengano, descida tão suave como gentil. E a mim, dedicas também o teu ser? Bem sei que me dei cedo de mais, bem sei que carregar este mundo não deve ser teu desejo. Mas é essa força que me leva as lágrimas, é esse aconchego que denuncia esta fraqueza. Desespero-te, pois saber que o desencontro se anuncia deixa-me sem alma. E eu, sem alma, sou ninguém. E eu, sem alma, sou o mundo. Mas o espelho já não está aqui, e não consigo ser nada nesta hora. O relógio já corre, a memória já não desaparece. Deita a minha mão na tua.
Que asas tão negras que passam agora diante de meus olhos. Que escuridão tão veloz que descende agora aos céus. Estará o mundo dormente, ou estarei eu sem água? Não é sede que me adoece, não é sede que pinta o mundo. Parece-me antes que Deus decidiu morrer, não ouvem o seu dedo aninhar-se no gatilho? Voa para longe, não deve ser esse poder a obrigar-te a ficar. Podes partir, podes desistir. Não deixas vergonha nenhuma connosco. Nem fraqueza. Não será esse salto que nos trará desilusão, os olhos que negamos detêm-se há muito no medo, não sofras por isso. Era nosso dever, e tu não falhaste. Teremos sempre a beleza de uma desilusão que não devia ter nascido tão tarde.
Ficámos nós agora. Sim, nós ainda aqui estamos, não é devaneio algum que escreve estas palavras. Não deitarás a minha mão na tua, certamente não é o frio que queres na pele. Mas deixa-me dizer que pouco me importa o abandono. Pouco me move saber que não posso perder-me em ti. Em sonhos estou só, em sonhos estou sempre só, e se desesperei por desejar o teu aconchego foi por saber que me restam sonhos. Apenas sonhos. Obrigado, descobri contigo a dependência, e não mais. Ao amor deixo apenas palavras de desapego: Tira o teu ódio de mim...

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

bem que podias escrever umas letras para os abutres! :)

segunda-feira, 27 setembro, 2010  

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial