sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

O sonho e um momento


Uma cadeira em que me sento. Uma mesa em que me apoio. Uma ansiedade que me corre no corpo, uma inquietação silenciosa. Um mistério, uma questão com uma resposta dissimulada. Nos meus dedos seguro um cigarro que queima lentamente, apesar da urgência com que o puxo para dentro de mim. Não me consigo acalmar, não consigo fazer com que o coração descanse, não consigo levantar-me desta cadeira que me amarra com o feitiço de um sonho... Um zumbido. Um respirar profundo que não satisfaz a minha alma... Um pestanejar vagaroso que contrasta com a pressa do coração. Algo me chama a atenção... Aproxima-se de mim uma alma que carrega consigo o fardo de um passado investido num futuro ilusório. Num impulso levanto-me e saio de um cenário que me atormentava, e caminho para uma porta que parece mais pesada do que é, como se tivesse de me empurrar a mim próprio para sair... Mas não era o cenário... Os tormentos seguem-me. Ouço uma música antiga, um antigo sentimento, que sai de uma guitarra que nunca me seduziu. Sinto o frio gelado de um vento que não me pressente e que me traz á realidade, numa queda brusca e repentina. Sofro pela ausência que esta queda me trouxe, sentindo o isolamento da minha alma. Sinto a raiva a crescer, sinto a necessidade de alguém, sinto pena de mim próprio... Não aceito isto, não aceito quem sou, o que sinto nem aceito o terror de tudo o que me rodeia. Tudo me enerva, tudo me pica a alma fazendo-me cegar de irritação e de raiva. Começo a andar mais rápido, sigo o caminho que me me leva a lado nenhum, que me enraivece, que me cega, que me faz contrair todos os músculos do corpo, que me faz querer fugir, desaparer para onde ninguém me veja, que me faz querer gritar, que me sufoca, que me causa uma angústia inigualável, que me faz desejar que nunca tenha nascido, que me faz desejar a minha Morte. A minha Morte... A minha Morte... De repente tudo vai embora... Tudo o que me atormentava desaparece com um sorriso irónico de sucesso... Fico sozinho com a solidão que me abraça e que me conforta nesta tristeza tão profunda...
Uma cadeira em que me sento. Uma mesa em que me apoio. A familiaridade de um momento que já tinha esquecido. Aqui me trouxe o meu caminho, aqui fui trazido pelos tormentos de minha alma. Fico preso em mais um momento eterno que aprisiona, que me limita o sonho, e só a Solidão me conforta, dando-me o seu ombro para mais uma vez chorar, abraçando-me para mais uma vez me lamentar...