domingo, 10 de outubro de 2010

Nós

Como foi que deixámos o olhar ser mundo tão depressa? Não sonhámos nós que a distância permaneceria imóvel apesar da vontade? Mas se aqui estamos vivemos o que não se vive. Fomos o que nunca foi, e assim continuaremos na preguiça daquele mar que não cantava. Não foi um sonho, e ainda bem. Ainda bem.
Vês agora as correntes que me prendiam antes de brilhares? Sei que não soube dar-me, mas saberás tu que ao falhar pude cair, tão livremente, tão lentamente? E contigo, o que ficou? Eu não, certamente. Eu não, felizmente. Não mergulhes nessa dor, não é o espaço entre nós que me faz sorrir. É antes o tempo entre o que era e o que pude ser para ti, contigo. Pude ser o que sonhaste em mim, ali pude ser tudo. Fui teu, fui a tela onde desenhaste o desejo. E esqueci-me, esqueci-me por ti. E ali, quem estava?
Não serei capaz de decidir se foi caminhando que senti este não sentir, ou se foi antes por não ter de continuar que te guardei tanto. Mas ainda que tenhamos caminhado juntos, o caminho foi nosso e nunca tinha sonhado aquele chão. Sentes como tudo foi a vida para mim, sentes como nada me podia puxar para outro viver?
Houve um momento, um momento infinito em que pude sentir-me nos teus braços. Não tive de segurar-me, não tive de sofrer o vento sozinho. Foste tu que o fizeste por mim, e a ternura que pensei ver em ti nunca tinha sido minha. Consegues sentir o que isso significa? Sem saber o que esperar encontrei-te e fui perdendo a melancolia, fui perdendo o ser ao estar contigo. Ao estarmos os dois soube que a solidão não tem de ser crónica. Mas ainda é.
Foste mais que o desejo, foste mais que a vontade. Em mim foste também a distância, para mim foste também o silêncio onde me consegui ouvir e sonhar. Não estou aí, não posso estar aí. Mas saber que a entrega ficou, saber que o que criaste ficou, não é suficiente? Podemos saber que não sonhámos o mesmo espaço, mas que na distância subimos lado a lado, sorrindo? A memória é tua, a perdição é minha e a verdade nada consegue ver, nada consegue tocar.
Não quero saber o que és, quero poder lembrar o que foste em mim. Não quero que saibas o que sou, espero poder ser o que viste nos meus olhos. Não é a beleza de uma fantasia mais eterna que uma qualquer certeza?

1 Comentários:

Blogger cris disse...

ah mas tu nem escreves bem nem nada!...
que maravilha ler coisas destas, daniel :)

sábado, 16 outubro, 2010  

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