Chuva

Sinto o frio gelado do vento, arrastando-se a si próprio numa melancolia que faz dançar as folhas. Ouço-o nas árvores, fazendo delas a sua voz e fazendo-as chorar com o céu... Todo este cenário aparenta ser desolador, solitário, ausente de qualquer alegria ou sorriso, mas aqui sinto-me em casa. Aqui, debaixo de um Céu cansado e exausto, abraço os meus tormentos e as minhas dúvidas e deixo-os correr livremente na minha alma, falando comigo, sem maldade, mas com uma sinceradade absolutamente extraordinária.
Pela primeira vez em muito tempo, não luto contra nada. Não luto contra mim, nem contra a tristeza, nem com a melancolia, nem mesmo com a Morte. Todos estes pesadelos passam ao meu lado sem me dar importância, quase como se já não valesse a pena atormentarem-me. Sabem que preciso de descansar, de baixar as armas, de me preparar para uma nova batalha, quem sabe talvez uma derrota...
Neste cenário adormeço, num banco algures nesta cidade, rodeado pela melancolia dançante do vento, pelo choro tranquilo dos Céus e pelas tréguas dos meus tormentos... Aqui posso dizer que me sinto rodeado por mim próprio, pelo meu reflexo, algo que procurava há tanto tempo que quase não me lembrava como era...